Quando era pelo Carnaval, a gente às vezes levava noites inteirinhas a dançar, numa casa encostada à torre, à luz da candeia. Naquela altura não havia electricidade, não havia nada. Mas era ali que a gente se ia divertir. Essa casa agora até é de um cunhado meu. Primeiro, nessa altura também nos mascarávamos. A gente vestia a roupa mais velha que por aí houvesse. Era o nosso espairecimento. Quando era Carnaval, pelo menos o mês do Carnaval, de sábado para domingo era quase todas as noites. A gente levava, pelo menos de sábado para domingo, até de manhã, a dançar. Era o nosso divertimento, porque não tínhamos mais coisíssima nenhuma. Durante a Quaresma, a minha mãe fazia assim: a carne que sobrasse do dia de Carnaval só se comia no sábado de Páscoa, em dando 10 horas. A minha mãe punha-a no azeite. Naquele dia comíamos o que a gente quisesse, mas a partir do dia de Carnaval até ao sábado da Páscoa ninguém mexia em carnes nenhumas. Não é como agora. Agora come-se carne em qualquer altura, mas o meu pai e a minha mãe eram muito religiosos, muito, por isso tínhamos que respeitar.