O meu primeiro emprego foi nos caminhos-de-ferro, em 1954. Tinha 14 anos. Foi o meu pai que me levou para Santa Apolónia para ir trabalhar. Recordo-me que fui ganhar 18 mil e quinhentos. O meu trabalho era descarregar, carregar e engatar vagões. Era um serviço muito duro. A gente trabalhava por turnos, umas vezes pegava às 8h até às 17h e depois pegava outra vez das 17h até à “meia-noute”. Quando trabalhava apenas na parte da manhã, às vezes saía dos caminhos-de-ferro e ainda ia trabalhar para outros serviços. Às vezes diziam-nos: - “Ó fulano, queres vir fazer este serviço?” A gente lá ia, porque queria era ganhar o dinheirito. Em “vera” (vez) de a gente ir fazer o comer para o almoço, comia-se uma bucha seca, uma carcaça com um bocado de queijo ou chouriço. A gente queria aproveitar o dinheirito. Havia mais pessoas de Soito da Ruiva a trabalhar nos caminhos-de-ferro. Estava lá a trabalhar um cunhado meu, que foi quem me puxou para lá. Havia também um tio dele, que foi quem o levou para lá. Quer dizer, iam puxando assim as pessoas. Eu não tinha experiência, então fui trabalhar para o pé de uma pessoa mais experiente. Por exemplo, eu fui trabalhar para o pé do meu cunhado que me indicando o que fazer. Cheguei a morar ao pé do meu cunhado. Aliás, chegáramos a estar algumas cerca de 14 pessoas da minha terra a viver numa casa. Pagávamos um “x” de renda e lá fazíamos o comerzito. Estive em Santa Apolónia durante seis anos. Depois fui para a tropa. Assim que saí da tropa, o meu pai puxou-me para o peixe, ali a seguir ao Cais do Sodré, chamava a gente a Praça da Ribeira. Aí também andei uns 20 e tal anos. Depois é que fui para a Docapesca e estive lá. A Docapesca era a seguir ali à Torre de Belém, por baixo dos Jerónimos. Cheguei a trabalhar também na Muralha, chamavam a estiva. A Muralha era ali à beira-mar. Começava lá em baixo em Belém até cá em cima, onde é agora a Expo. Por ali fora chamavam a Muralha.