Todos os anos matava-se, com licença, um porco. O meu pai quando era para os comprar vinha cá sempre e para o matar também. Naquela altura, também se fazia uma festa quando se matava, com licença, o porco. Na matança do porco chamava-se a família mais chegada, por exemplo, os irmãos, os tios, porque uma pessoa sozinha também não se alinha com aquele trabalho. De manhã, a gente ia chamar os convidados, depois vinha-se tomar o pequeno-almoço e depois ia-se matar, com licença, o porco. A matança do porco dá muito trabalho e são bichos grandes. Depois de mortos chamuscava-se com umas carquejas e, no fim, era lavado e raspado com umas facas. Depois, penduravam-se os porcos num “chambaril” (instrumento de ferro). Entretanto, a primeira coisa a preparar-se do animal era o sangue, que era cozido e vinha para uma caldeira ou um caldeiro. Depois botavam-lhe um bocadinho de azeite e de alho e comia-se. E levavam-no lá para a loja, onde estava o porco e sempre tínhamos um petisco. Abria-se, tirava-se-lhe as tripas para fora e o sangue ficava a escorrer até à tarde. À meia tarde, tornava-se a comer uma bucha e arriava-se para o chão para se desmanchar e fazer enchidos. Juntava-se lá o pessoal para se migar as carnes. No outro dia, o trabalho era já com as mulheres, as quais tinham que encher o enchido para depois porem no fumeiro a secar. A matança do porco era assim. O nosso enchido foi sempre muito bom, até teve boa fama. Foi muito falado por muito lado. Naquela altura é que aproveitávamos para encher a barriga, porque noutras alturas não havia tanta fartura.