Os bailes começavam no Natal e iam até o Carnaval. Era uma festa. Todos os dias à noite lá íamos nós, começávamos a dançar assim até ao Carnaval. Juntavam-se os rapazes e as raparigas e íamos comprar o petróleo à taberna. Cada um tinha que dar dois tostões. Compravam petróleo para o grupo que fosse dançar porque gastava-se muito para ter uma candeia acesa. Depois dançava-se, tocava-se. Estava o tocador sentado numa cadeira e os outros dançavam. Eram umas paródias. Era assim todos os dias, estivesse a chover ou não, a gente tinha que ir. Às vezes mudava. Dançávamos aqui na loja que agora é minha, mas não estava arranjada como está agora. A água corria por lá e havia lama. A gente andava a dançar ali e caíamos agarrados um ao outro pelo meio da lama. Ainda hoje lembro-me de uma rapariga que andava a dançar e caiu por cima de uma prima minha que estava na França. Hoje se falar com ela ainda se farta de rir. Eram uma paródias quando a gente caía no chão. Era só lama e estava a chover, voltávamos a casa todos molhados. Uma vez lembro-me que uma rapariga de quase 20 anos que caiu. Nessa noite, uma tia minha que morava ali ao pé e o filho dela também andava no baile, ouviu o barulho e foi lá ver: - “Que é que houve por aqui?” - “Então, olhe, não houve nada.” As pessoas que caíam ficavam envergonhadas e não gostavam nada. Tropeçavam e caíam uns em cima dos outros. Tropeçavam porque aquilo era muito apertado e havia rasteiras. Aqueles que eram mais apressados iam para o chão. Vinha muita gente, à noite, não eram só os que dançavam. Vinha os nossos pais, os velhotes também e sentavam-se em toda à volta a ver. Essas danças só acabavam no dia de Carnaval. Nesse dia, quem dançasse ia para o baile. Se estivesse a chover era numa casa, se estivesse de bom tempo era no largo. Tudo dançava. Velhos e novos, toda a gente dançava.