O meu casamento... Eu era pobre e ela pobre também era! Foi um bocado coisa, mas não houve falta de nada. Enquanto estava em Lisboa a trabalhar fui guardando dinheiro para pagar cá as despesas do par e ter tudo pronto. Casei-me assim que saí da tropa. Tinha 24 anos. O vestido teve de se comprar e o fato para mim também. Comprávamos nas feiras ou mandávamos fazer no alfaiate. A festa foi em casa da mãe dela e ainda foi muita gente. Juntou-se muita família. Na altura, o padre de Pomares vinha durante dois ou três dias e tínhamos que governar a ele e a mula. Aquilo era um tempo difícil. Na altura, ia aos casamentos dos vizinhos. E hoje para os restaurantes também já vão. Antigamente não se davam prendas de casamento. Hoje já está diferente. Quem se casa é que fica com o dinheirinho para ir passear e os velhos é que ficam com a despesa. Noutro tempo, não. Os casamentos eram em casa e as pessoas que iam aos casamentos davam mercearias e rês de ovelhas ou cabras para os pais fazerem a festa. Às vezes, compravam ainda umas prendazitas para a casa. Para o resto nós, tínhamos que nos desenrascar. Recordo-me que no nosso casamento não nos deram nada. Naquele tempo os pais costumavam dar uns terrenozitos se os tivessem. Os pais da minha mulher deram o terreno onde ela trabalhava. A casa comprei depois do casamento. Na altura, ainda foi muito cara. Além da casa, comprei umas palheirotas que ficam ali em cima. Comprei o andar, de baixo, da casa onde fui criado. Foi tudo comprado. Não tivemos prenditas. Poucas foram as pessoas que nos deram um prato. Tive irmãs que ainda nos deram uns dois pratitos ou três. De resto quando precisávamos disto ou daquilo tínhamos que ir à feira de Avô. Levávamos uma cesta e vinha com ela à cabeça. Comprámos tachitos de pôr no forno. Nós é que tivemos de comprar tudo para a casa.