Fui para a escola com 7 anos. Era no Sobral Magro, lá em baixo. Tantas vezes saíamos debaixo de água de manhã, bem cedo depois de tomar o cafezito, que era o que tomávamos. A minha mãe arranjava uma buchitas de queijo com um pouco de broa. E lá estávamos todo o dia na escola só com aquilo. Só vínhamos comer a casa à noite. Quando chovia, chegávamos à escola e sentávamo-nos nas carteiritas todos molhados. Enxugávamos a roupa no corpo. Era uma vida! Para vir para cima também era outra história. Juntavam-se os rapazes com as raparigas e lá íamos para baixo. A minha irmã ainda chegou a andar lá. Mas eram sete rapazes, ou o que era, e ela era a única rapariga. O meu pai não queria que ela fosse para a escola. Chegou a ir falar com a professora. Ele queria que ela fosse guardar o gado, mas a professora disse-lhe: - “Não senhor, não a posso dispensar. A única coisa que lhe posso fazer é dispensá-la mais cedo.” Então, a minha irmã ia sempre com meia hora de avanço. Ele não queria que ela estivesse sozinha no meio de tantos rapazes, então a professora fazia passar meia hora para não ir com eles. E foi assim! Eu andei na escola até aos 10, 11 anos. A gente não aprendia nada porque os professores não faziam caso de nos ensinar. Só fiquei com a 2ª classe. Na escola éramos muitos. Estava cheiinha porque eram as crianças de Soito da Ruiva e do Sobral Magro. A professora era de Coimbra. Não me lembro do nome dela mas sei que já era de idade. E com ela levei algumas reguadas. Para bater ela era do piorio! Dava-nos mesmo porrada e ninguém podia queixar-se. Hoje não é assim. Naquele tempo era o tempo de Salazar e eram os professores e os padres que mandavam. Era muito ruim, batia-se muito nos alunos. A gente apanhava-lhe medo e não aprendia nada! Hoje não é nada assim, não se pode fazer isso! A escola era de manhã e de tarde. Depois vínhamos para casa, de noite, e ainda tínhamos que ir guardar as ovelhas. Embirrava tanto com isso. Apanhava-lhe tal birra às ovelhas que não as podia ver! Ao fim da idade passar, depois dos 10 anos, já não se estudava mais. Éramos obrigados a ir para a escola dos 7 aos 10 anos. Depois ficávamos em casa a ajudar os pais. Dantes havia cá muita rapaziada e todos os domingos havia baile ao pé da escola. Nós andávamos com o gado lá por cima e vinham alguns dizer: - “Vamos embora, vamos embora com elas dançar no Outeiro.” Lá íamos. Nesses bailes tocava-se harmónico, concertinas e guitarras. O meu pai, que Deus o tenha, tocava muito bem guitarra. As raparigas iam à porta de casa e tanto teimavam com ele que lá ia tocar um bocadito para nos divertir. Eu era pequenito mas ainda me lembro que havia jovens que iam para lá dançar, namorar e tudo. Uns já namoravam, outros andavam já para casar, por isso era conforme.