No Carnaval, as pessoas andavam disfarçadas todo o dia. Estavam de cara tapadas então não se conheciam uns aos outros. Para as máscaras, arranjavam uns papelões ou outra coisa qualquer. Tapavam-se mas tinham que deixar alguma coisita para se ver. Depois reconheciam-se pela fala. Às vezes, falavam de outra maneira para não serem reconhecidos. Quando éramos miúditos, quando víamos os mascarados direitos a nós com a cara tapada, a gente fugia sem saber onde é que se havia de meter. Tínhamos medo! Às vezes, havia coisas que faziam que eram más. Por exemplo, havia alguns que andavam com os cestos cheios de trampas de burros que apanhavam e faziam-nas passar por figos. Vendo bem isso era mau. Aproveitavam-se que era dia de Carnaval e andavam aí pelas portas. Por acaso, aconteceu com um tio da minha mulher. Ele viu e disseram-lhe que era figos. Quando ele ia para meter os figos à boca, disseram-lhe: - “Olha o que tu vais fazer, tu vais tomar isso?” Ele disse: - “É de burro. Era cagado de burro.” Ele atirou logo com aquilo e foi a correr atrás daquele que andava com o cesto porque esse fugiu logo. O rapaz ainda levou com umas pedradas. Ainda bem que não levou o tal figo à boca! Andavam a pregar partidas, mas lá por ser Carnaval aquilo não se fazia. Eram partidas de mau gosto. Imagine que aconteceu com um homem assim já velho, que botou a mão ao cesto a pensar que eram figos e afinal era cagado de burro! Ele, coitado, ainda o meteu na boca mas deitou logo para fora. Ficou muito chateado.