Pela altura de Natal, havia mais fartura. As famílias juntavam-se, iam comer às casas uns dos outros. Também havia doces: arroz doce, bolos, tigelada, bolos do forno, que são feitos na fogueira com óleo, chamavam-se as filhoses. Isso já é muito antigo. Mas era só para as festas. Na casa dos meus pais comíamos bacalhau só uma vez por ano. O meu pai, que Deus o tem, metia homens, aí numas fazendas que tínhamos, a cavar... terras com nove, dez homens, todo o dia a cavar e dava-lhes de comer e tinha de comprar o bacalhau. E era só nessa altura que a gente comia. No Natal, as coisas que se faziam eram de casa, não era nada comprado. Para criar os meus filhos foi difícil. Andava aí uma mulher, uma padeira, que vinha do Piódão vender o pão. Os meus filhos, coitaditos, viam essa mulher que andava aí pelas portas a vender. Claro, eles queriam que a gente comprasse e, às vezes, a minha mulher fechava a porta para não a verem. Porque se a vissem, eles pediam-nos para comprar, mas não havia dinheiro! A broa era de milho e caseira. Era boa mas a gente não lhe dá valor. Damos mais valor a um pãozito.