Apesar de andar sempre descalço dei sorte de não pisar nenhum bicho. Nestas serras há lá um bicho chamado víboro. Tem uma boca de um lado e também morde com o rabo, é como um agulha que ele tem no rabo. Parece uma cobra mas muito grande, até tem cabelo no lombo. Eu nunca vi nenhum mas sei que quando um víboro macho morde uma pessoa, ela morre logo. Não tem cura. Uma vez vi um pequeno, aqui para cima do povo. Ia-lhe pondo os pés em cima e quando vi fiquei a tremer. Era um víboro novito ainda, mas muito perigoso. Uma vez, andava uma irmã minha a guardar gado, lá em cima, no gestal. E o víboro mordeu uma cabra, ela só deu um berro, começou a tombar, “dhumm”, foi logo. Quando é a fêmea que morde, a víbora, ainda pode haver cura mas se deixarem passar as 24 horas também já não há cura. O primeiro lugar que mordem é no pé porque é onde chegam melhor. Depois ficava aquela peçonha, aquele veneno que se metia no sangue. Se fosse uma mordida de víbora e alguém lhe acudisse durante 24 horas, estava safo. Agora o víboro não! O víboro não tinha salvação! Nem que o médico estivesse ao pé, não tinha salvação. Onde mordesse, a pessoa ficava logo ali. Aquilo era muito ruim. Uma vez apareceram uns, aqui em baixo no fundo do povo. Foi lá um homem com uma espingarda e matou-os a tiro senão não se podia ali passar com o medo de poderem morder e depois a pessoa ficar lá. Esses bichos não eram muito grandes, quase meio metro mas eram grossos e rastejavam, tipo uma cobra! Uma vez, na Malhada Chã, onde andava o meu filho, havia uma mulher que foi até uma poça de água para ir buscar água para regar. Estava lá um víboro na poça. A mulher, coitada, fugiu. Mas ele foi sobre ela. Coitada da mulher, agarrou-se a uma árvore, subiu uma pereira para ver se safava dele. E ele subiu pela pereira acima e foi matá-la! Esses bichos ainda existem por aí. A gente é que não os vê, mas hoje ainda estão pelos matos. É o bicho mais ruim, mais perigoso que cá há.