A minha mulher já a conhecia desde pequeno. Ela é de Soito da Ruiva também. Eu era da criação dela, apenas tenho três anos a mais do que ela. Assim que saí da tropa é que pensei em casar. A minha mãe já tinha morrido, então pensei em casar. Andei um ano e tal a namorar com ela. De vez em quando vinha à aldeia. O resto do tempo, como estava em Lisboa a trabalhar, escrevia-lhe. A gente mandava cartas, mas era o meu pai que as lia para ela. Às vezes, dava resposta de quinze ou oito dias. Era uma alegria receber cartas naquele tempo, mas era um bocado difícil. Havia dias que muitas vezes as cartas já estavam na taberna da aldeia, e a gente ia lá perguntar se tinha chegado e diziam que não, quando já lá estavam. Era um desespero! Hoje em dia, o correio vem à porta e raramente falha. Já é diferente. Depois desse tempo de namoro, fui fazer-lhe o pedido. Lá teve que ser! Fui falar com ela e com a mãe dela. Diziam-me que o pai dela não vinha cá, porque também estava em Lisboa. E disse: - “Então, deixe-me cá ver. Vou falar com o seu marido em Lisboa.” Lá em Lisboa, falei com ele e disse-lhe que vinha cá falar. Ele prometeu logo que vinha à aldeia. Disse de boa vontade que vinha. Mas a minha sogra dizia: - “Se ele não quiser vir, faz-se à mesma.” E eu respondi: - “Não. Se ele não vier, não!” Era para vir ao casamento e se ele não quisesse vir ia lá falar com ele. Já o conhecia bem, porque em Lisboa vivíamos juntos. Aliás, eu até cheguei a dormir com ele. Lá dormia-se uns com os outros. E foi assim que a pedi em casamento. Saí da aldeia, tinha já falado com ela e estava tudo pronto para tal tempo. Mas não ficou nada combinado sem eu lá ir falar com o pai dela. Tanto a minha mulher como a minha sogra diziam que se podia fazer o casamento, mesmo sem ele vir. Mas não achava bem!