Não sei bem por que é que a aldeia se chama Soito da Ruiva. Eu já tenho dito tanta vez: - “Isto foi trocado!” Palavra de honra. Esta terra tem o nome trocado. Há uma terra da serra que chamam Tojo. O tojo é um mato que pica. Puseram lá o nome Tojo, mas lá não há muitos tojos. E nós aqui, no Soito da Ruiva, o que não falta é tojo! Não há lado nenhum que não haja tojo. Portanto aqui é que havia de ser o Tojo. Havia quem dissesse que se chamava Soito da Ruiva porque noutros tempos havia pessoas ruivas. Mas isso já é tão antigo. Se calhar também era porque havia muitos castanheiros que entretanto secaram. Antigamente, a casa dos meus pais era uma casa farta de castanhas. A gente secava-as num canistro. Comíamos as castanhas cozidas com a casca ou descascadas. Tinha muita castanha e a gente gostava muito daquilo. Apanhava-se os ouriços da castanha em Outubro. Íamos todos e, às vezes, a chover tínhamos que lá ir à barroca, para a água. Os antigos governavam-se com as castanhas que criavam. Não tinham outra coisa. E mesmo que houvesse, não havia dinheiro para comprar. Tinham que comer aquilo que calhava.