Quando saí da escola e era já uma rapariguita ia com a minha mãe para os matos, cortar o mato. Todos os dias íamos à lenha. Eu trazia um molhinho e a minha mãe trazia outro. O mato era para pôr nos currais dos animais, nas cabritas ou nos porcos, porque nós também tínhamos animais para tratar. Tínhamos cabras e, com a licença de vossemecê, porcos e umas galinhas. Ainda tínhamos uns animaizinhos! Depois, em chegando, tratávamos dos animais e íamos trabalhar na agricultura, nas nossas fazendas. Cultivávamos só os nossos terrenozinhos. São poucochinhos mas era o que era, era nosso. Às vezes, levávamos para os terrenos, se não fosse o almoço, pelo menos o lanche. Quando a gente almoçava em casa, depois levava-se o lanche para comer de tarde. Outros dias que andássemos pertinho de casa vínhamos comer a casa. Lá na minha agricultura semeava feijão, batatas, hortaliça e uns bocadinhos de milho. Fazia-se o rego, botava-se o milho, fazia-se o rego... Metíamo-lo na terra e regávamo-lo. Tínhamos que ir buscar a água à nascente. Depois vinha pelo regadio para a fazenda e ali andávamos a mudá-la, a encaminhar, na fazenda, no renovo a regar. Agora já não. Agora já cá cultivam pouco, mas nessa altura regávamos muito de noite. Era água corrente, estava sempre a correr. Era dividida: umas horas para mim, outras horas para o vizinho, outras horas para outro vizinho. Quando todos cá cultivavam, e era muita gente, andavam toda a noite a água a correr. Regávamos juntos. Levávamos uma luz para andarmos a regar. Era muito trabalhoso. Depois do milho estar crescido, tínhamos que o sachar e arrancar-lhe as ervas e depois púnhamos-lhe o mato. O mato que íamos buscar aos pinhais para os animais é que se punha depois no renovo. No fim de estar criado, apanhávamo-lo e íamos secá-lo num soalheiro para depois ir moê-lo nos moinhos. Os moinhos também estavam divididos. A gente sabia os dias e as noites em que eram nossos e só íamos pôr o grão naqueles dias. Depois, a seguir a nós era doutro vizinho. Era assim, também estava dividido como a água. Cada um sabia o tempinho que tinha no moinho ou com a água e apresentava-se para regar, moer ou para fazer as suas coisinhas. Com aquela farinha cozíamos a broa ou dávamos aos animais, aos porcos, com a licença das senhoras. Era uma trabalheira! Era muito trabalho, muito trabalho mesmo! Também se ia buscar pedra à serra de lá. Não na nossa encosta. Era ao cimo da outra terra a seguir à serra. No cimo dessa terra é que havia os materiais e as camionetas podiam lá “arriá-los”. Depois é que os carregávamos para a aldeia. Era o nosso trabalho. Eu comecei logo assim de pequena. Nunca tive outro emprego. À noite, depois do trabalho no campo, estávamos juntos na cozinha a dizer qualquer coisa. Não havia televisão. Hoje em dia, faço pouco. Tomo alguma coisinha ao pequeno-almoço e começo a tratar da minha vida de casa. E outra coisa já não vou fazer fora. Não posso e também a gente já cultiva pouco. Tenho o meu marido, a minha irmã, o meu filho, que me lá vão fazendo qualquer coisinha. Faço a minha vidinha de casa. Ainda faço o queijinho e a broinha. Devagarinho ainda vou fazendo. Trato dos queijitos, da broinha quando é preciso. É assim.