Antigamente não havia médico na aldeia. Ele tinha de vir de cavalo, porque não havia estrada até aqui. A que havia ainda só chegava aqui para cima. Quando nasceu o meu filho, veio cá o médico tirar-mo. Sei que o médico ainda caiu ali para cima, do cavalo a baixo, e aleijou-se. Era um problema muito grande. Tínhamos muita dificuldade com os médicos. Quando alguma pessoa estava doente era um problema muito grande. A gente não tinha para onde se pudesse socorrer. Por isso, os nossos remédios eram à base de ervas. Às vezes, havia assim umas ervas, “olhe isto é bom para remédio”, “olhe esta qualidade de erva também é boa para remédio”. Então, fervia-se e bebia-se aqueles chás. Às vezes, fazíamos maus jeitos, que a gente diz que é o estrutagado. Para curar dizíamos uma reza. Tem que ser com um terço, com a cruzinha do terço, e tem que estar perto do paciente. Fazem-se as cruzes em cima de onde o paciente está ofendido, vá. E depois a gente diz para o paciente: - “Que coso?” E o paciente diz: - “Carne quebrada ou nervo torto.” Depois dizem então: - “Isso mesmo é que eu coso, com Deus Todo-Poderoso, se estes nervos são estrutagados ou estroncados ou rangidos ou estrugidos. Por as cinco chagas de Cristo eles hão-de ser unidos e pelas três pessoas da Santíssima Trindade que é o Pai, o Filho e o Espírito Santo.” Depois dizemos então: “Seja o vosso Senhor São Jordão que ponha estes tendõezinhos no são. Enquanto o padre se veste e se reveste e sobe ao altar estes tendõezinhos hão-de ir ao seu lugar.” Repito três vezes. Não sei mais nenhuma reza. Só sei para o estrutagado e já se aliviam as pessoas. Já não é nada mau.