A madeira dos castanheiros vendiam-na, mas usavam uma parte para fazer as casas. Para pôr os barrotes por baixo das lajes ou para o “solho” (soalho). A madeira de castanho tinha muito valor. Servia para muita coisa. Faziam muita madeira e gamelas. Daqueles castanheiros mais grossos, faziam as gamelas. Faziam pipos para o vinho e dornas para o esmagar. Quem fazia eram os carpinteiros, que aprendiam. Aqui havia poucos carpinteiros. Vinham doutras terras. Chamavam e vinham para ganhar dinheiro e fazer as coisas. Nessa altura ainda não havia electricidade nem água. Então, a electricidade veio já eu estava casada, não sei bem a data. Ainda há poucos anos. Telefone também não tínhamos, ninguém cá tinha telefone. Ao fim é que veio - muito tarde já - o público, mas era só aquele. Não havia cá mais nenhum. Não tínhamos água, estradas, não tínhamos nada! Íamos buscar a água para gastos de casa ali aos fontanários. E electricidade não havia. Vivíamos do petróleo. Às vezes, os meus filhos vinham da escola à noite e eu punha-lhes o candeeirito do petróleo ao pé para fazerem os trabalhos. Até se enchia a casa de fumo, porque aquilo deita muito fumo. Eu, por mim, não via nada com aquilo. Mas eles, coitadinhos, lá viam as letras e as coisas para fazer os trabalhos. Era duro. Hoje, quem é que aceitava viver assim? As crianças habituaram-se à luz da electricidade. Mas ainda há terras que usam petróleo. Na aldeia, nesse tempo, havia muita gente. Havia cá muita gente, muita rapaziada. O cá estar tudo é que fazia mais fome. Porque tudo quanto cá nascia, tudo se cá criava, tudo cá se estava. E era preciso trabalhar muito nas fazendas, para modos de se governar. Mas era tudo mal. Cultivavam muito as terras, mas naquele tempo a gente era muita também. A terra, às vezes, não chegava. Não dava produto para se governar tanta gente. Se governava aí alguma pessoa assim melhor era por meio de rebanhos de gado. Vendiam queijos, às vezes, uma cabra ou uma ovelha, quando as tinham, e outras vezes cabritos. E era com o que eles faziam o dinheiro para se cá governar. E andavam assim. A gente passou-as cá mal. Hoje, não há nada! Só os velhos! Estão aí cerca de 17 ou 18 pessoas, todas velhas! Sempre foram amigos, mas ainda eram mais antigamente, quando havia muita gente. Eram mais amigos que agora. Agora são poucos e ainda se não dão. Mas é mesmo! Quanto menos gente, parece que pior é, menos unidos são. Não se dão. Eu noto muita diferença. Tenho muita saudade desse tempo. E de ter 20 anos. Mas onde é que eles já vão? É assim a vida.