Hoje, é sempre a mesma coisa. Todos os dias é o mesmo. É tratar das galinhas, dos bocados para ir cavar, cavá-los também, qualquer dia semear, tratar das hortas... Eu ainda semeio batatas e ponho hortas de couves. É isso que a gente faz só. Agora só já não semeamos milho. Gado, já só uma pessoa é que cá tem, é só o meu sobrinho. Já cá não há mais nada. Já não há mais ninguém que tenha gado. Só umas galinhas e não são todos. As pessoas já não têm tempo. Estão velhinhas, reformadas, comem do centro, vem o comer feitinho, já não têm mais nada. Eu também ainda tenho umas galinhitas para me entreter. Aliás, tenho sempre muito com que me entreter. De resto, compro tudo. Vai a gente, às vezes, a Arganil ou a Coja ou a Oliveira, onde há feiras, lojas, comércios para vender e a gente aproveita para comprar o que precisa. Às vezes, vêm pessoas de fora vender coisas também, para levarem o dinheiro para se governar. Aos fins-de-semana costumam vir pessoas de Lisboa, mas há muito fim-de-semana que não aparece aí uma viva alma! Só as que cá estão! Às vezes convivem. No Inverno, vão ali para o sol. No Verão, vão para a sombra e conversam sobre muita coisa, a vida deles. Mas eu não costumo assim ir muito, porque a minha vida chega-me. Ando na minha lida. Entretenho-me com as galinhas, com a terra, em casa, vou para a fazenda. A fazenda onde agora cultivo é aqui perto. Vou até lá. Tenho mais bocados, mas ficam longe e estão abandonadas. Tudo cheio de silvas.