Os que iam para a escola, iam. Iam, mas os pais não queriam que fossem. Queriam que andassem a guardar gado. Foi o meu caso. Eu não andei na catequese, nem me deixaram ir à escola. Gostava de ter ido para a escola, mas não calhou... Pronto, passou-se. Se fosse obrigada, eles tinham que deixar ir, não era obrigado, só ia quem queria. Então, não fui. Mas passei ainda bocados mais ruins que se fosse para a escola. Os meus pais não me deixaram ir a mim nem aos meus irmãos. O meu irmão sabia ler, porque aprendeu com a madrinha dele aqui na aldeia. Uma rapariga que sabia e ensinou-o, que ele também para a escola nunca foi. Mas, bem, remediou-se e eu é que não foi nada. E eu gostava de ter ido para a escola. Gostava! E a gente não é na altura que lhe acha a falta. É agora e mais atrás. Que eu agora já estou velha, também já não me importa. Mas tive alturas que tinha pena de não saber. E agora eles não estão para nos aturar!