Era tradição aqui o linho. Até havia cá quem o semeasse. Semeavam-no e depois, em chegando à altura em que estava criado, ceifavam-no, punham-no ao sol, lavavam-no bem e batiam-no bem batido. Desfiavam-no, fiavam-no e punham-no ao sol a corar uns poucos de dias para ficar bem branquinho. Quanto mais corado, mais lavadinho e branquinho ficava, ao fim, o linho para fazer as coisas. No fim de estar assim tudo bem lavadinho, era desfiado para se fazer o linho, para fazer maçarocas grandes para ao fim fiar. Havia teares para isso. Já não me lembra disso, já não é da minha lembrança, nem do meu tempo haver cá os teares, mas fiavam-no. Isso é mais do tempo da minha avó Maria José, que ela também o semeava. Ela ainda contava que o semeava e que o fazia. Essa fazia muito e até estopa, que também é como o linho, só que é um coisinho mais escuro. Semeava-o e fazia sacas, colchas e mantas... As mantas de fitas também eram feitas com linho, com aquela estopa. Levava um trabalhão! Depois, ela deixou de fazer por causa da idade. E os filhos já não aprenderam nada. As filhas foram ainda pequenas servir para Lisboa e já não se criaram cá a fazer nada do que ela fizesse.