O mel vinha da criação de abelhas. Mas agora também desapareceu tudo. Ardeu tudo com o primeiro fogo. A partir daí, já não houve mais. Mas antes havia muitas abelhas na terra. Toda a vida que me tem lembrado havia cá muito mel. Primeiro, usavam-se cortiços. Quando começo a lembrar-me, tinha muitos cortiços na aldeia. Várias pessoas, muita gente aí tinha, mas não eram da minha família. Depois começaram a aparecer umas caixas de madeira e deixaram de usar os cortiços. Mas há quem diz que o mel dos cortiços era melhor do que o das caixas. Eu, às vezes, ia ver as pessoas a tirarem o mel, mas tinha medo, que as abelhas mordiam. Então, fugia. Muitas vezes não ia ver, porque elas mordiam e eu fugia. Sei que quem criava abelhas, quando era para tirar o mel, começavam a dar lume, depois pegavam o fumo para as abelhas afastarem-se do cortiço e aí é que vinham muitas e eu fugia! A partir daí, já não via como é que faziam. Por isso, não aprendi. Sei que cortavam aquilo com umas facas e tinham preparos para crestar o mel, isto é cortar aqueles vasos. E ao fim traziam o mel numas gamelas para casa, onde espremiam aquela cera para umas vasilhas. Depois é que preparavam para sair o mel fino. Mas não podiam tirar o mel todo do cortiço, senão as abelhas morriam. Ficava sempre lá alguma coisa para irem comendo. Aquilo era um bicho fino! Era bicho fino e o que vinha, vinha livre. Não era preciso andar a gastar dinheiro com elas. Agora, já tem que as curar também. Pôr lá uns produtos quaisquer, porque também apanham quaisquer males e morrem. As pessoas hoje curam as ervas, flores e árvores, onde as abelhas vão comer e esses produtos fazem mal. Agora já não se criam produtos sem se curar. Como o alimento delas já não é natural, muitas morrem com os produtos químicos. Mas agora nem cortiços nem caixas, que já há muito que ninguém tem nada. Foi em se queimar. Senão se queimasse a serra em volta ainda cá havia. E nos montes também não há nada. Mesmo que tivesse ficado alguma abelha, também acabava por morrer. Além, o meu filho tinha ainda umas poucas de abelhas e lá não houve incêndio, mas morreram com fome, porque estendiam-se para os limites das outras aldeias. Agora cá não havia nada para elas comerem, então morreram. Morreu tudo. No Sobral só desapareceram agora, com o último fogo, porque começou lá a arder para cima. Desde essa altura, nunca mais cá ninguém teve abelhas. Havia muita gente que ainda ia pôr mel nos cortiço, mas não resultou. Agora já há muito mato floridinho, mas não há abelhas. É preciso que elas façam criação, que as haja para fazerem criação, mas também não as há. Só se as forem buscar, comprar noutras terras que ainda haja.