Primeiro, ninguém cá fazia nada de doces. Durante o ano ninguém fazia nada. As festas não eram “desfrançadas”. Só se faziam às vezes uns bolos quando era para uma festa. Eram feitos ao lume! Às vezes, umas filhoses só. Outra coisa também se não fazia. Às vezes, havia o arroz doce. Isso também fazia-se para as festas. As tigeladas cá também sempre se fez. É leite, ovos e açúcar. Mais nada! É bom de fazer. Eu costumo fazer assim: parto seis ovos numa tigela, para meio litro de leite. Para um litro de leite são precisos doze ovos. Tudo por medida. E o açúcar, a gente põe o que quer até estar bem doce. Há quem goste da tigelada mais doce e há quem goste menos. A gente parte os ovos para a quantidade que quer e bate os ovos bem batidos. Daí mistura-lhe o leite e o açúcar, mexe tudo bem mexido, quanto mais mexido for melhor, põe-se nos tachos e leva-se ao forno. Antigamente era feito a lenha. Com os fogões a gás, não ficam as coisas tão bem. Há agora quem use uns fornos eléctricos e fica melhor que os a gás. Mas eu sempre fiz à lenha, sempre. Ainda hoje faço à lenha, porque o gás também é caro. É caro e não ficam as coisas tão bem. À lenha fica melhor. Mas era só de festa a festa, só de ano a ano. Agora, vem uma festa já não é festa disso, porque agora já fazem durante o ano muita vez. É quando calha. Quando nos apetece. Então, a gente tendo ovos e o leite é um doce que fica barato. E como tenho galinhas... Tenho só cinco, da raça das poedeiras, e chegam bem para mim, para me dar trabalho. Têm posto ainda muito ovo.