Em Soito da Ruiva havia muitos homens que foram trabalhar para fora, para Lisboa. Não se ganhava cá dinheiro e eles tinham que ir ganhar algum para as famílias. Só assim é que a gente podia comprar alguma coisa. O meu pai trabalhava na Piedade na cortiça. Contava que havia uma casa, diziam que era a Casa da Malta, onde ficavam os homens daqui a dormir. Lá faziam o comer, dormiam e depois de manhã iam trabalhar. O meu cunhado foi trabalhar para o peixe. Primeiro, andou na Ribeira e depois foi para a Docapesca. Ele morava na Calçada dos Cesteiros, numa casa com muita gente. As mulheres ficavam cá a trabalhar, os maridos não as levavam. Havia alturas que os maridos vinham cá para ajudar na lida do campo. O meu pai e o meu cunhado também vinham cavar a terra. Depois iam embora e nós ficávamos cá a semear o milho, o feijão. Depois sachávamos o milho e empalhava-se. Era assim. A minha mãe cavou muito sozinha, porque nós ainda éramos pequenos. Hoje, ainda existe muita gente a morar em Lisboa e na Piedade. Na Piedade é onde há mais gente daqui talvez. O meu irmão e o meu sobrinho Carlos moram lá. Eu já fui lá. Já estive em casa do meu irmão Manel. E agora quando a gente vai para Lisboa vou sempre com a minha Arminda. Vou para casa do filho, o Carlos. Ele tem lá uma pastelaria. Gosto de ir para lá porque tratam-me bem, mas é diferente de Soito da Ruiva. Nunca fiquei lá a morar. Ia a Lisboa às vezes passar um tempo, mas vinha para cá outra vez.