Ainda agora estive aí a ver um papelinho que tenho de umas estatísticas de aqui há anos eram 300 e não sei quê pessoas na Benfeita. Hoje está reduzido a pouco mais de 100, nem sei se chegará a 100. Já têm estado aqui pessoas a falar comigo:
- “A Benfeita tem aqui umas casas bonitas...”
- Tem, tem mas você bate-lhe à porta e não está lá ninguém. Umas morreram, deixaram aos filhos, os filhos está tudo fora daqui, a maior parte, reside em Coimbra, em Lisboa. Em Lisboa a maior parte e cá vêm de vez em quando, nas férias mas, pouco cá param. Não se governam aqui e cada vez pior.
Enquanto eram os filhos ainda tinham aquela afeição pelos pais e tal. Mas com os netos já diminuiu, porque noutro tempo havia aí pessoas que estavam em Lisboa a trabalhar e andavam à pressa para aproveitar mais um dia e ainda vinham naquele dia à noite no comboio para chegar aqui de madrugada. Havia uma carreira para Monte Frio que os trazia aqui para baixo. Vinham sempre passar aqui um mês. Agora vão quinze dias para o Algarve, aqui uma semana e pronto. Pouco cá vêm.
Há aí casas que custaram mais de 60 mil contos, 100 mil contos até, mas povoações que aqui há. Agora estão quase abandonadas. Os pais gostaram muito daquilo, investiram ali, casas que até nem ficam muito bem aqui porque isto é uma aldeia de xisto. São casas forradas a azulejos, em pedras mármores, nem ficam muito bem neste meio. Faziam boa figura numa vila ou numa cidade. Mas, pronto, os pais tinham dinheiro, gostavam assim. Agora os filhos e os netos vêm cá meia dúzia de dias e acabou.