Antes havia muitas oliveiras na terra. Muitas, muitas! Até eu tinha muita, mas arderam. O fogo veio e devorou as oliveiras todas. Agora já não há. Só há duas ou três. Antes a gente apanhava a azeitona e levava-a ao lagar no Sobral Magro. Era um lagar a água. Agora tem que se levar para mais longe, para Pomares e para os lados de Oliveira. E lá já é eléctrico, a prensa. No meu tempo, nós é que a íamos lá levar as sacas de azeitonas às costas. Não vinham cá os lagareiros. Demorava um dia e uma noite a fazer o azeite. Botavam-no para um pio e depois mudavam-no para umas selhas, para umas coisas grandes. Punham-lhe uma trave muito grande e com a água é que espremiam o azeite, o qual ia para umas tarefas. Chamavam tarefas às pias onde ia ter o azeite. No outro dia, a pessoa chegava lá e trazia os litros do azeite, conforme os quilos de azeitona que a gente tivesse levado. Tínhamos azeite para todo o ano! Havia anos em que a gente tinha entre 30 a 50 litros. Outros anos havia menos. Depende, conforme a azeitona que fosse, porque as oliveiras nem carregam todos os anos. Lá pelo Alentejo é que é assim, que a minha enteada tem lá oliveiras e carregam todos anos, mas para aqui não. A gente aqui tinha anos que não havia. Não havia azeite, porque quando ia a começar a botar a flor, vinha muito calor ou nevoeiro e as azeitonitas carumavam, caíam para o chão quando ainda eram pequenininhas e já não se criavam.