Nalgum tempo o Soito da Ruiva tinha muita gente. E eram todos dados, amigos e unidos, porque toda a gente tinha falta de dinheiro. Não havia nem para mim, nem para ninguém. Até iam ajudar uns aos outros com o comer. Chamavam os vizinhos e iam ajudar a cavar, a apanhar milho e a fazer todos os trabalhos. As famílias e fora das famílias! E à noite, as pessoas que sabiam ler ensinavam os filhos e primos e famílias. Uma terra era uma família! Já o tio Fontinha e a Irene são muito boas pessoas para mim. É ela que me acode. Estão mais próximos. Quando dá conta de que me dá o desmaio, vem aqui duas e três vezes por dia e às vezes de madrugada. Vem aqui cedo para saber como é que estou. No outro dia deu-me o desmaio, veio cá três vezes para me fazer chá e ver como estava. Gosto muito deles e eles gostam de mim. São muito boas pessoas. Ela vem-me procurar se é preciso fazer uma pinga de chá, se é preciso isto, se é preciso aquilo. Às vezes não abro esta janela quando está mau, e estou na cozinha e ela vem ver à janela da cozinha a ver se eu estou bem ou mal. Na terra do Soito da Ruiva, não tenho umas pessoas como a Irene e o Fontinha que são meus vizinhos, que se doem de mim. E até quando os meus filhos vêm, ela dá muita hortaliça para eles comerem e levarem.