Eu não era muito namoradeira. Quando comecei a namorar com o meu marido ele estava em Lisboa. Começou-me a escrever de lá. Deu-lhe para ali. Ele já tinha sido casado. Mas diziam muito mal da mulher dele. Que ela não lhe dava de comer, que gastava o dinheiro que ganhava. Não sei se assim era, se não. A gente não via, mas separaram-se. Eles tinham três filhos, mas um já morreu. Dos outros filhos, um está lá fora, nem sei se é no Brasil. E a filha está na Piedade, também não sei onde. Ainda esteve dois anos a escrever para mim. Depois veio para a aldeia, eu tinha 37 anos. Quando me casei fiz fraco enxoval. Já arranjei mais coisas depois de cá estar, do que as que trouxe quando me casei! O meu marido chamava-se António Alves. A minha mãe não me deixava namorar, por isso casei mais tarde do que o costume. A minha mãe era pior para isso do que o meu pai. Mesmo depois de casar ela ainda me queria proibir de fazer certas coisas, mas depois também fui teimosa. A minha irmã já se casou mais cedo do que eu, ainda não era velha quando se casou. Teve três filhas, mas uma também já morreu. Naquele tempo houve quem falasse, porque eu era solteira e ele casado. Elas diziam o que queriam, mas a gente não lhes podia tapar a boca! A minha mãe também era contra no início. Não fiz festa de casamento. Já vivia com ele há alguns 20 anos ou perto disso, quando fomos ao Registo. Foi o irmão dele que fez com que fôssemos ao Registo. Ele disse: - “Olha que vós ides ao Registo, porque senão a outra vai buscar tudo e não fez caso de ti e deixas esta mulher sem nada, que é esta que está a fazer caso de ti.” E lá se meteu aquilo na cabeça e depois lá tratámos de tudo no Registo. Mas enquanto se não divorciou da outra, não pôde ser. O meu marido já faleceu, já faz 14 anos no dia 8 de Abril.