Os meus pais passavam os dias na fazenda. Quando era o tempo de cavar, andavam a cavar e a semear. Quando era no tempo de apanhar o renovo também tinham de o apanhar e carregá-lo às costas. Os terrenos não eram muitos, mas a gente tratava terrenos que não eram nossos. Tínhamos algumas plantações. Tinham milho, por exemplo, mas era pouco. Não chegava para todos, tinham que o comprar. Também tínhamos animais, cabras e ovelhas. Havia vezes que tínhamos às cinco e às seis. Outras vezes eram mais, outras vezes eram menos. Era conforme calhava. Havia muitos castanheiros cá, mas tudo era pouco para as pessoas que cá viviam. O que vingava mais eram castanhas e feijão. As batatas eram poucas porque eles só semeavam o milho. Milho também havia pouco. Muitos juntavam era centeio, semeado pelos matos, juntavam mais do que juntavam milho. Também tínhamos cá vinho, mas era pouco. E oliveiras antigamente também cá havia poucas. E agora ainda cá há menos, que arderam. Houve um grande incêndio há 20 anos e agora há poucos anos houve outro. Até arderam algumas casas. Apesar de haver cá muitas árvores de fruto, ninguém fazia doces. Eles não iam comprar açúcar para fazer doces. Que é do dinheiro? Uma parte da fruta comiam-na e a outra davam-na aos animais, principalmente aos porcos e às cabras. O meu irmão, que era mais velho que eu, é que ia para a serra com o gado.