Antigamente havia muita gente cá na aldeia. Havia aí casas de oito pessoas. Quando, às vezes, chamavam para virem ajudar a fazer qualquer coisa queriam vir logo duas ou três mesmo só pela bucha. Não era para ganhar dinheiro! Era só pela bucha. Se lhe diziam: “- Deixa-me lá ir com a fulana ajudar a fazer isto ou aquilo.” “- Olha, podem ir todas!” Os Invernos eram muito frios. O que nos valia é que se arranjava lenha para a gente se aquecer. Mas, de resto não, não havia cá aquecimentos nenhuns. Não havia nada. Os mais velhos costumavam juntar-se no largo, mas os restantes andavam pelas fazendas. As serras aqui tinham muitas árvores de fruto. Havia para aí muitas cerejeiras, muitas pereiras e sei lá o que é que para aí havia! Agora, tudo desapareceu. Umas arderam com os incêndios e as outras já eram velhotas e caíram. Cá não há cemitério. As pessoas daqui quando morrem são enterradas em Sobral Magro. Primeiro era em Pomares. Iam com os mortos às costas daqui para Pomares, porque nem carros havia nessa altura. Agora chamam a agência funerária e depois vêm-nos cá buscar para o Sobral. Havia uma capelinha que era para quem ali passava poder rezar pelas almas. No interior tem um santo, mas não é o São Lourenço, é uma imagem qualquer. A aldeia também mudou. O largo antigamente não existia, existe há pouco tempo. Primeiro, havia lá um carreiro, um caminhito pequenino. Quando fizeram a estrada é que fizeram o largo. A Comissão de Melhoramentos tem-se fartado de trabalhar. Fizeram muito pela terra. Primeiro, nem cá havia água, luz, nem a estrada. Isto já foi tudo depois que arranjaram a Comissão. A aldeia não é feia. E para sossego ainda há poucas como aqui. Havia pessoas em Soito da Ruiva que tinham mais posses que outras. Isso via-se porque tinham mais fazendas. Nessa altura, a minha avó dizia muitas vezes: “Casa que não caibas, fazenda que não saibas”.“Casa que não caibas”, que era pequena, e “fazenda que não saibas” que era muita.