Os namoricos no meu tempo eram por cartas. Quer dizer, os rapazes normalmente migravam todos para Lisboa, que aqui não havia onde é que se ganhasse. Depois os namoricos eram por cartas. As cartas demoravam para aí dois, três dias a chegar à terra, que o correio tinha que uma pessoa ir buscá-lo a Pomares, à Junta de Freguesia. Havia uma senhora que ia buscá-lo a Pomares e depois o que vinha para estes lados e deixava ficar no Sobral Magro. Havia então uma estafeta do Soito da Ruiva que ia buscar a correspondência a Sobral Magro para aqui. Depois deixava-a num senhor que tinha uma merceariazita, fraca, mas era lá que ela ia deixar a correspondência. As pessoas tinham que ir lá procurar. Eu fui para Lisboa com os meus 18 anos, só casei aos 25. O namorico foi por cartas a maior parte do tempo. Pedi a minha mulher em casamento, mas também tive de fazer o pedido aos pais. Pedi-lhe por carta, ela aceitou mas depois tive que ir pedir aos pais. Isto não era como agora. É comum, eles e elas é que mandam, mas naquele tempo se os pais dissessem que não, tínhamos que respeitá-los. Não sei se era melhor, se era pior. Casei-me já tinha 25 anos. O casamento foi cá na aldeia, no dia 23 de Junho de 1951. Eu estava nervoso, mas é normal. Houve festa de casamento, tinha que haver festa como é normal. Naquele tempo até deitavam foguetes aí, mas no meu casamento não houve nada disso. Quando as minhas irmãs se casaram, ainda foram fazer o casamento a Pomares e eu, quando vim para cima, em vez de vir com o pessoal fui aí por uma outra terra para ir comprar foguetes, para deitar, quando cá chegasse. A festa de casamento foi na casa da mãe dela. A comida era carne de cabra, que era o que se usava naquele tempo. Era o melhor, o melhor que aparecia. Os doces eram: arroz doce, tigelada, que é feita com açúcar, leite e ovos, e coscoréis. Normalmente era quase toda a gente da aldeia convidada. Convidavam principalmente os familiares, mas quando era no dia a seguir ao dia do casamento convidavam aí o pessoal todo da aldeia para irem petiscar. Não quer dizer que fosse para comer uma refeição, mas pelos menos irem petiscar um bocado de carne fresca e beber uns púcaros. Era a tradição naqueles tempos.