“Tudo a arder”

Já cá houve tantos incêndios! Isto é no meio da serra, é natural. É uma tristeza ver tudo a arder. Até é uma afronta para a gente. Ficamos todos preocupados. Recordo-me quando houve um grande incêndio há mais de 20 anos. Ardeu tudo. E há pouco tempo houve outro. Os bombeiros queriam que todas as pessoas fossem para Coja, mas os mais novos ficaram a guardar as casas e calhou que muitos de Lisboa estavam na aldeia. Nesse dia, fui para Coja. Os bombeiros vieram-nos cá buscar. Estava a arder tudo aqui à volta. Andava o fogo aí por todo o lado. Ainda me ardeu uma casa aqui em baixo, que era uma palheira. Punha lá muita coisa. Guardava os cereais e ardeu tudo, até madeiras que tinha lá. Também tinha lá as galinhas. Estava em Coja, quando chegaram lá umas primas minhas disseram-me: - “Ai, a sua palheira já ardeu. Mas, olhe, as galinhas ainda lá estão.” Com o fogo, elas fugiram. Desceram. A gente tem-nas passado. Antes dos incêndios isto a aldeia era muito bonita. Tinha muitas árvores. Havia muito castanheiro, agora não. Há, mas estão ardidos. As pessoas iam apanhar as castanhas e depois comiam-nas umas cozidas, outras assadas. Também faziam sopa de castanhas. Às vezes, botavam-lhe arroz. Outras castanhas eram pisadas.