Os porcos eram criados durante todo o Verão e depois lá para Novembro é que os matavam, que era para ter fartura no Natal. Na altura, como não havia frigoríficos, fazíamos enchidos e tínhamos as salgadeiras. Fazíamos também torresmos. Ainda hoje fazemos, mas já não são tão bons. Naquele tempo, criavam os porcos com muita coisa: botelhas, couves, nabos. Quando era lá para Outubro, Janeiro, davam-lhes batatas e abóboras, que cá chamavam botelhas. Coziam tudo na panela, depois botavam aos porcos. As carnes antes eram muito melhores do que agora. O enchido era tão bom. Os animais eram criados com ervas e tinham mais qualidade. Era tudo natural. Agora não. Também já não ninguém na aldeia a criar porcos. É uma tristeza. Ainda lembro-me quando faziam os enchidos, que a gente aqui diz as chouriças de carne. Migávamos a carne para uma gamela, um alguidar grande. Deitava-se-lhe a carne para dentro, água, azeite, sal e colorau. Também aproveitávamos o sangue do porco que ia para outra gamela ou alguidar e punham a mesma água, com azeite, sal e tudo isso, que era para conservar a carne. Cozíamos o sangue e fazíamos as chouriças de sangue. Aparavam o sangue numa gamela e deixavam-no a coalhar. Depois partiam com uma faca tudo às talhas. Botavam-no dentro de uma panela para cozer, que naquele tempo eram nuns caldeiros que tinham um arco. O porco depois vinha aqui para casa, porque a loja era baixa para pendurá-lo. Então, penduravam-no. Entretanto, em cima da mesa punham aquelas bacias cheias de sangue cozido e os torresmos para irmos comendo com broa.