Para fazer o queijo, tem que se aquecer o leite em banho-maria. Antes, púnhamos um caldeiro em cima da fogueira, a bilha do leite dentro e depois os passadores. Mais tarde, a gente punha o pano por cima do passador. Mas primeiro não havia passadores. Punha-se um pano na boca da panela. Havia umas panelas apropriadas para o leite e a gente passava o leite. A minha mãe, quase sempre fazia com cardo que é o mais natural, não faz tão mal. Mas, às vezes, a gente arranjava outro fermento de pôr no leite. Depois ia sempre virando a panela para ele não arrefecer em volta da lareira e fazíamos o queijo. A minha mãe tinha uns arcos muito grandes que se punham à volta do queijo, diziam que era o achincho. Tínhamos de os virar todos os dias. Os meus, virava-os de manhã e à noite. Quando estava nevoeiro, eles começavam a estender e tínhamos que lhes atar umas fitas. Se nos apetecia comer um queijo fresco comíamos mas tinha que ser logo fresquinho. No outro dia é que se comia fresco. Se passasse um dia ou dois o queijo já começa a fermentar e já não é fresco. Tínhamos também que os lavar. Dia sim, dia não a gente ia lavando, voltando, trocando os panos e tudo. Depois o queijo ia curando. Quando o tempo era de nevoeiros e muita chuva, era capaz de levar para cima de um mês a curar. E quando o tempo estava assim seco curava mais depressa. Mas já não é tão bom. Cura de repente e já não é tão bom. Fiz e vendi tanto queijo. Fiz tanto queijo e ganhei muito dinheirinho. E hoje já tenho que os comprar se os quero comer. Já não tenho cabras, não as posso ter...