O meu paizinho chamava-se Vicente Alexandre, a minha mãe Maria da Luz.
O meu paizinho era não sei bem de onde, mas a minha mãe sei que era do Vidual. O meu paizinho não me lembra, só tenho papeladas. O meu paizinho pertencia à Guarda Nacional Republicana e era militar. Quando foi para os Açores estava em trabalho. Andava a cavalo e andava a guiar as tropas. Era eu garota, mas sei que ele estava lá e fazia isso. A minha mãe foi lá com ele. Quer dizer, conheceram-se no navio que ia para lá. A minha mãe foi-lhe pedir para ele escrever uma carta para a família e ele disse:
- “A menina se calhar é para o seu namorado e eu também estava a escrever para a minha namorada, mas as vistas da senhora... Vamos fazer uma coisa: nem eu escrevo para a minha namorada nem a senhora para o seu. Vamos namorar os dois.”
Foi no barco que se conheceram e depois a minha mãe não lhe ligou nenhuma. Ela ia-lhe pedir para ele lhe escrever para a família, ele fala-lhe em namorado ela não tinha, ficou enervada e depois não lhe falou. A minha mãe ficou toda contrariada e ainda foi-se embora, mas mais tarde ele encontrou-a. Indo ele a cavalo viu que a minha mãe estava à porta quando estava a comprar uma hortaliça lá para uma senhora. Ia a cavalo e por ordem de sorte ele conseguiu ver a minha mãe. Ficaram a namorar depois casaram, constituíram família. Eu nasci lá. As minhas irmãs já nasceram em Lisboa. Eu é que nasci nos Açores ainda.
O meu paizinho era a coisa melhor do mundo. Era a coisa melhor do mundo. A minha mãe não. Era engraçado que eu às vezes arreliada com a minha mãe dizia que ela me tinha dado leite de burra, porque não me gramava. Toda a gente gostava de mim, só a minha mãe é que não. Os de fora gostavam mais de mim que a minha mãe. Era verdade, não estou a mentir, nem a alinhavar coisas. Estou a dizer a própria verdade.