A roupa do casamento mandei fazer. Não havia costureiras em Soito da Ruiva. Lembro-me que ainda fui buscar a roupa a Pomares. A senhora que me fez a roupa veio trazê-la a pé, que naquele tempo não havia carros. Hoje já daqui vão alguns carros, mas naquele tempo não tinha cá nenhum. Eu fui esperá-la ao caminho e ela trazia a roupa numa cesta já feita. A cesta era dela e a gente já a tinha a roupa paga. Ao fim, mudáramos da cesta dela para uma que levei e trouxe-a. Meti a roupa cá em casa e no dia do casamento é que apareceu. Naquele tempo usava-se muito uma blusinha branca, em seda branca. Uma saia e um xaile, que a gente chamava, xaile de merino. Tudo em preto. Mas naquele tempo a rapariga que não levasse um xaile preto já não era rapariga. Hoje já não usam, mas naquele tempo era a moda assim! Ainda foi o meu pai que emprestou o dinheirinho, mesmo ao meu marido, que ele não o tinha. Tinha-lhe morrido o pai há pouco tempo e já tinham vendido alguma coisita que tinham, mas ainda assim não tinha dinheiro. E o meu pai do que tinha, por modo de fazer o casamento, é que lhe emprestou ainda alguma coisa. O meu pai fez-me uma festa de casamento. Matáramos uma rês e convidáramos as famílias mais chegadas e assim fizéramos o casamento. Tínhamos arroz doce e tigeladas e bolos, pães leves. Já era um casamento. Fez-se um pouco de tudo, mas pouco porque não tinham dinheiro para fazer.