Depois de casar, o meu marido ainda cá ficou, mas depois faltaram-nos as coisas e ele teve que ir para Lisboa. A gente queria comer e não o tinha. E teve que ir ganhar alguma coisa. Em Lisboa, trabalhou lá nos caminhos-de-ferro. Ao fim acabou, fechou, e teve que arranjar trabalho noutro lado. Foi quando arranjou para o peixe, para a Ribeira. Mas ainda passei muito mal. Ele lá tinha uma patroa e morava em casa dela. Ele contava-me que, a primeira vez que foi para Lisboa, que a patroa era boa. Quando a casa onde trabalhava fechou, não tinha onde o ganhar e, ao fim, a patroa viu que ele que andava triste, esmorecido e disse-lhe: - “Ó Guilherme, então o que é que tu tens? Andas tão esmorecido.” E ele disse: - “O que é que eu tenho? Chega-se-me a renda da casa e não tenho dinheiro para modo de a pagar.” E ela disse-lhe: - “Ó Guilherme, não andes triste, nem chores. Enquanto não ganhares dinheiro, eu não te levo renda da casa.” Foi boa a patroa. Como a patroa era boa para ele, ao fim até ainda a cá trouxe também. Ela dava-se bem com ele, mas naquele tempo quando ele foi daqui, não levava dinheiro e falhou-lhe o trabalho. Eu ao fim, dizia-lhe assim: - “Querias passeios para a roda dos cavalinhos, agora já não há roda nem cavalinhos.” Na casa onde ele morava, morava lá muito homem, mesmo daqui moravam muitos. Mas os outros tinham mais do que ele e não andavam tristes. Mas chegava a altura de pagar a renda da casa e não tinha dinheiro para pagar? Ela é que foi boa para ele. Porque ele daqui não o levava, não tinha pai, nem mãe, nem avô, nem avó. Ninguém o ajudava.