Houve uma altura em que me deu uma coisa no pé, por baixo, e tive aí quase um mês sem sair de casa. Qualquer coisa que se cá espetou e depois infectou. Aqui nunca houve médicos. Vinha cá o senhor doutor Vasco de mula. Eu não me lembro já dele cá vir. Já estava velhote ou morreu na altura, mais ou menos. Não me lembro. Quando eram coisas que não eram tão graves, dizia-se: “Isto pode ser que passe!” Ainda hoje há esse costume. Eu e a minha mulher ainda temos esse costume, às vezes: " isso pode ser que passe!“ Mas havia quem soubesse rezas que curavam. A minha irmã Deolinda também sabe. Se a gente estrutagar um pé ou uma mão - o estrutagado são as linhas torcidas, os tendões - ela também sabe rezar. O meu pai é que sabia disso e foi quem ensinou. Eu parti uma perna e não fui para o hospital, foi ele que ma arranjou. Já o meu irmão esteve no hospital e hoje coxeia. Ninguém diz que parti a perna. Aquilo é uma reza que fazem e vai ao sítio. Só que quando fazem a reza durante 10 dias a pessoa não pode molhar aquele sítio. Se molhar não vale de nada a reza. Também há uma reza do púcaro, mas a minha irmã não faz com o púcaro! E a do púcaro não é tão boa como a outra. Vale mais essa que a minha irmã sabe do que a do púcaro! Outras vezes esfregavam as pessoas com tintura de mostarda! Esfregavam isso na coluna e nos braços. Aquilo aquece muito o corpo onde se põe. Comprava-se na farmácia. Ainda há hoje. Também havia a erva da estaca. Se fosse uma coisa qualquer num dedo e a gente não conseguisse tirar, a gente punha aquela erva em cima e puxava para fora. E também se fazia um chá de ervas que há por aí no campo.