Mel, tiveram os meus pais e tive eu! O meu pai já tinha e a minha mãe era lixada para aquilo. Ela fazia os enxames sozinha, mas quem produz o mel são as abelhas, não somos nós! Faziam o mel nos cortiços, nos enxames, que ficavam no mato. Era proibido tê-las na povoação. A abelha-mestra é a que faz o mel. As outras só carregam o pólen para o cortiço. A gente chama-lhes o gado do monte. As abelhas não são todas da mesma qualidade! Nos cortiços era conforme apareciam. A gente não estava a esperá-las! Mas se não tiver a mestra o enxame morre. É maior que as outras. Há os zangões que são grandes. Mas a abelha-mestra tem o rabo afiado e o zangão não! Ela dá vencimento às outras todas, faz a cera e o mel no cortiço. Sabia-se que havia uma mestra pela cera. Que o buraco da cera é maior. O buraco da cera, de onde sai a mestra é maior do que os outros favos de onde nascem as abelhas. Se for colmeia móvel temos que ir lá pôr a cera. Mas o mel da colmeia móvel não é tão bom como o do cortiço, porque a cera não é feita por elas. Ou seja, temos que ir lá pôr os quadros da cera. Depois, a abelha-mestra faz os buraquitos na cera e depois põe o mel, enquanto que com o cortiço, ela faz a cera e põe o mel. Por isso o mel da colmeia móvel não é tão bom como o do cortiço. O mel de enxame é bom para remédio e isso tudo. O da colmeia, a cera já não é nova, pronto! É nova só no primeiro ano. Se a gente fizer este ano o enxame e ainda o crestar, é mel de enxame novo. Se ele ficar para o ano, já não é novo. Já é cera velha. É bom para a gente consumir, só que não é um mel tão fino. O mel do mato-branco e o do mato negro aqui pouca diferença faz. A abelha, por exemplo, este ano crestou. Elas para o ano põem a cera do mato negro. Depois elas põem o mel do mato-branco. Aquilo é o pólen, quer seja de uma coisa ou da outra. A flor não é tão grande como esta, é mais miudinha. E o mel é o mais fino. E há a outra que chamam mongariça que dá um mel ainda mais fino mas mais doce. Se for mel de medronheiro já não é tão bom, amarga mais. Às vezes, tínhamos que mudar as abelhas de um enxame para criar outro. Se lá estivesse mais do que uma mestra, matavam-se uma à outra. Só fica uma! Senão a outra mata! Tem que fugir! Então, a gente punha o cortiço sem nada, batia no outro e elas passavam desse para aquele. Se a gente deixar o outro cortiço ao pé, elas fogem todas para lá. E a mestra, abelha mais velha, é que vai! Ela vai nem que seja só com um bocadinho de abelhas! Lá só fica uma, que a nova não vai! A nova fica no mesmo. E se a mestra lá não for, elas tornam a regressar. A gente pode levar o cortiço para longe mas elas regressam lá. A gente não pode lá deixar o cortiço. A gente fez o enxame deste para aquele, deixamos lá a colmeia e levamos o cortiço para outro lado. Mas, às vezes, até nem vale a pena esses enxames, porque aquilo ao fim não dá nada. São poucas abelhas! E sendo poucas abelhas, não dá produção de carregarem para ela! As abelhas reproduzem-se dentro da colmeia. Quando a gente as vê andar a carregar e vão com as pernitas todas cheias de pólen, é quando as abelhas novas estão para nascer e está feita a cera no cortiço. Quando já não se as vê levar nada nas pernas, aí já põem o mel. E quando estão a pôr o mel, elas põem-se aos eivados em baixo a fazer “zzzz”. Olhe que andam lá. Depois, ao fim, se for enxame, só quando a cera chegar ao fundo é que está feito. E se for colmeia já não se vê por baixo. A gente toca no tampão por cima. Se ele não toar, já tem a cera até ao tampo e está feito. Se toar é porque não está feito. A gente a tocar assim no tampão do cortiço é que sabe se o enxame está feito ou não. Nem toda a gente sabe quando estão feitas. Depois, tirava-se o mel com fumo e com uma crestadeira. A gente vai e corta a cera em toda a volta. Aquilo está agarrado ao cortiço e ao tampão, às vezes. Depois, a gente levanta o tampão e tira-o fora. Dá-lhes fumo para as abelhas irem para baixo, para depois cortar a cera com o mel para trazer. Mas a gente não tira o mel todo! A gente só tira uma parte de cima. Para baixo fica o mel para elas se alimentarem e depois tornarem a fazer novo mel. Às vezes, as abelhas picavam quando se ia tirar o mel. Se a gente estiver ao pé delas e se deixar estar quieto, elas podem pousar na gente e não fazem mal nenhum. Agora se a gente começa a fazer assim “trás”, fica logo! Mas são parvas, porque morrem! O zangão não morre porque o zangão morde com a boca. Agora a abelha dá a picadela com o ferrão que tem. E depois ao ferrão ficam as tripas agarradas! Por isso é que elas morrem! Uma vez, a minha mulher fugiu às sete partidas. Depois começou tudo a ir de repente de um cortiço para o outro. Digo eu assim: - Vê que ela agora é capaz de passar! Onde é que ela ia? É que as abelhas não são todas da mesma qualidade! Aquela abelha miudinha é boa mas para picar! Uiii! Houve uma vez que tive que largar o cortiço e vir-me embora para pôr água em cima de mim para me largarem. O mel depois era só para comer. Nós cá nunca o utilizamos para outra coisa. Havia pessoas que vendiam, outras que não. Era só para dar, para a família. Também havia aguardente de mel. Era feita quase só da cera e da água. Quase feito só da cera! A cera é espremida. Depois lavam as mãos ou as luvas, quando é acabado de espremer. Quando acabam de espremer, o mel e aquela água tem de estar a fermentar, senão não dá logo. Até se lhe puserem muito mel não desdobra, não dá aguardente. Tem que ser quase só água e cera porque se lhe puserem muito mel não desdobra. E se ficasse escura, também não prestava. Mas aqui não há quem faça. Nem nunca houve. Há a vender ali, porque é em Sobral Magro que fazem.