Depois de já estar casada, o meu marido pensou em vir para a Benfeita porque se vivia com menos dinheiro. Com aquelas ideias dele que era pessoa antiga nas coisas de fazenda. Não tinha outra história que foi a que ele aqui viveu humildemente.
Ele era de cá e os pais também. O pai era magarefe, matava animais e vendia a carne e assim. Ele estava habituado até a andar nas obras assim e ele andou em Lisboa e já estava chateado de andar lá a mando dos outros, depois quis vir para a Benfeita. Veio para a Benfeita, mas ele estava habituado a umas coisas que eu não estava. Era umas sardinhas metidas nuns coisos pretos, pareciam uns potes pretos. E tinham ali a sardinha de mês para mês. A sardinha já era amarela e queria que cozesse aquilo e eu não queria. Não estava habituada àquilo e dizia:
-Então se vem aí sardinha fresca para quê que eu vou comer sardinha amarela?
Fomos andando. Eu como sabia alguma coisa de costura comecei-me a dedicar à costura cada vez mais e fui trabalhando, que eu do meu marido nunca recebia ordenado nenhum, que ele nunca sustentou a casa. Trabalhei sempre de costura. Não que o meu marido me ajudasse na casa. Lá criei a minha enteada e as minhas duas filhas. E foi aí que eu as criei. Graças a Deus não era com riqueza, mas era com a humildade que eu tinha e queria as trazer sempre arranjadinhas e preparadinhas. Havia lá ricas, mas não havia lá tão bem arranjadas quanto elas. De saias até já usadas e tudo eu fazia um vestido bonito para as minhas filhas. Uns bibinhos brancos lá bordados. Quer dizer depois de ter feito a minha obra, de noite o meu serão era fazer aquelas coisas para as minhas filhas. Gostava de as ver sempre enfeitadinhas. E lá as criei coitadinhas. Levei-as à escola. Fiz tudo quanto pude. Fiz os dois casamentos. Sem vergonha do mundo.