Fui para a rádio porque eu fazia anos, a minha mãe não me queria dar prenda e foi-me matricular na rádio Hertz na altura. Na Costa do Castelo. Havia lá o rádio Hertz que saiu depois do ar e eu fui para lá para o rádio. Cantava, daí dançava, fazia tudo o que havia para fazer. Cantava e tinha uma canção que era uma avó e um neto. Ela a cantar a canção da avó e do neto e eu cantava aquilo e depois tinha uma parte que eu fazia falado e aquilo tudo. Aquilo começou a ser uma alegria. Foi lá então uma senhora mais o marido e o filho disse:
- “Ai, quem é aquela menina? Gosto tanto dela.”
Diz ela assim:
- “É a que canta o sonho da criança.”
- “Ai que eu gostava de falar com ela. Ela canta tão bem, tão bem. ”
Lá me conheceu a senhora e tudo e eu lá cantava aquilo. Era a prova dos caloiros. E os caloiros iam todos cantar. Então, eu era a que estava mais adequada. Estive lá muito tempo. Depois dançava. Faziam bailes e faziam aqueles concursos e tudo e eu ia também. Tudo o que eu fazia. Eu em casa às vezes ainda vou buscar essa moda, mas agora não. Havia uma parte que era assim:
“Que doce visão da avó e do neto, o meu coração faz brilhar de afecto. Dormita meu bem - eu falava - chora amor.”
Estas partes cantava-as assim. Tinha uma voz boa. Agora a minha voz às vezes ainda dá para cantar na igreja. Quando estou bem-disposta ainda canto.
Quando fui para a rádio, já tinha 15 anos. Depois veio um produtor da Emissora Nacional que nessa altura eles é que iam de rádio em rádio granjear as vozes melhores para levarem para a Emissora. Que ainda era do tempo da Graça Maria, que ainda me lembro muito bem dela. Essa era assim dessas mais... E ele queria-me levar. Aqueles que contratam as cantoras e depois arranjam os programas para elas. E a minha mãe disse:
- “Se for a irmã com ela muito bem.”
Queria que a minha irmã também fosse cantar, mas o quê eu tinha a voz melhor que a minha irmã. Eles diziam:
- “Não. Desculpe pode ir acompanha-la, mas para cantar não. Só nos interessa esta menina.”
- “Então não vai.”
Não vai, e eu não fui. Cortou-me a carreira, também não fui, que eu gostava de cantar. Depois um dia foi lá um compositor de valsas e foi lá estrear as valsas deles, a composição, lá à rádio Hertz numa grande festa. A minha irmã era mais bonita que eu. Julgava que era ela a escolhida, não foi. Umas pessoas achavam-me a mim mais, outras pessoas achavam a ela. Eu por mim não me importava. Essa não me castigava dela ser mais bonita. Depois como ela me disse que não, ela tinha que me arranjar alguma coisa, empregou-me então na frutaria. Havia um senhor que queria ir para férias, o dono do estabelecimento, mas queria uma empregada que fosse uma pessoa para tomar conta da caixa.