A minha mãe chamava-se Arminda Gonçalves. Era da Benfeita. Trabalhava no campo, plantava tudo: couves, batatas, feijão, milho, cebolas, cenouras. Tudo nos campos dela. O que colhia era para gastos de casa e, às vezes, para dar aos amigos. Era conforme.
O meu pai era Luís Fernandes. O meu pai metade do ano andava em Lisboa na venda da fruta, a outra metade estava com a família na Benfeita. Ele estava lá com mais quatro senhores todos da Benfeita e todos amigos do tempo dele, da mocidade dele.
Tinham uma casa por conta deles. Tinham quem fosse fazer limpezas. Eles saíam de manhã para a venda da rua. Vendiam fruta de todas as qualidades, mas não tinham lugar certo. Andavam de porta em porta com os cabazes a vender. Também lá havia mulheres, viviam lá. Quer dizer, tinham lá casa! Estes homens que eu disse, só iam lá uma certa parte do ano. Sempre iam ganhar algum dinheiro. Na Benfeita não havia onde ganharem! E lá ganhavam-no melhor do que andar aqui a cavar terra para cima das costas.
Quando meu pai estava na Benfeita andava a apanhar a azeitona, a matar os porcos e no campo, na vida do campo, para fazer o azeite. Também cultivavam as vinhas para apanhar o vinho.