Quando estive em Lourenço Marques só estava em casa. Gostava imenso de lá estar. Foi onde passei o melhor tempo da minha vida.
Hoje, aquilo está abandalhado. Mas naqueles tempos era uma maravilha viver lá. Havia muita gente da Benfeita. Cada um tinha os seus trabalhos. A minha irmã também lá estava e o marido e os filhos. Já o meu cunhado conduzia os comboios. Era maquinista dos comboios. Havia mais outros primos que eram da construção civil. Havia muitos espalhados para os matos. Tinha muitas cantinas onde vendiam tudo: cereais dos campos que lá cultivavam, mercearia, vendiam panos para fazer aquelas capelanas para as pretas. Vendiam assim.
E depois é que viemos quando houve aquela coisa em África em que os pretos correram com os brancos, quando houve a revolução, lá em África. O meu marido tinha lá uma senhora que era a caixa, que era uma senhora já de idade, mas era muito amiga dele, e ela ia-lhe contando as reuniões que havia lá entre os pretos e os mulatos. E ele estava a par das coisas. E ela numa altura qualquer disse:
- “Senhor Manuel, é altura”
Porque ela sabia que ele queria-se vir embora antes dos acontecimentos. E então viemos embora.