Eu fui à escola. Fiz o exame da terceira classe. Só mais nada. Já não tive cabeça para mais. Havia duas escolas. Uma era das raparigas e outra dos rapazes. A dos rapazes era no areal, chamámos nós o areal, onde está agora a casa da Junta. E a casa das raparigas era junto à cabine, mas compraram a casa e arranjaram-na. Havia muitos alunos. Agora não há ninguém. Não anda um aluno na escola, na Benfeita . É só estrangeiros, mais nada. Andava o meu neto. Agora foi para Côja já. Agora não há criação hoje. Hoje não presta para nada. Está de toda a miséria. Éramos uma data de alunos, homens e mulheres e tudo.
Eu andei com dois professores. Um que chamavam José Carvalho Duarte, foi o primeiro quando eu entrei. E depois veio o outro, chamavam o José dos Aidos. Foi só com aqueles dois professores. Um batia, esse último era reguila, esse batia. O José dos Aidos esse batia bem. Esse não era preciso pedir licença a ninguém para bater. Também ensinavam bem mas o que é... Quer dizer, talvez ele batesse para lhe guardarem respeito, tinham disciplina. Alguns, não chegando, eles também fazem o que querem e lhe apetece, e ele não autorizava.
Da escola ia para a propriedade, de manhã à noite. Até ao resto. Saía da escola, não tinha vagar que andar na rua, as ordens cumpriam-se e se não fosse já estava em casa a mandona que nos chegava a roupa ao pêlo, que não era pouco. Ela também era como os professores, também não perdoava. E não as prometia, quando tinha de dar, ela via que merecíamos, ela dava-as.