A gente aqui guarda o Dia da Cobra. Quer dizer, não guarda o Dia da Cobra. Só que não vamos nem ao mato, nem à lenha, nem trazer nada para casa. O resto, o trabalho, faz-se todo na mesma.
Tínhamos uns olivais - e ainda lá estão - na Deflores. Uma vez, nesse Dia das Cobras, no dia 1 de Maio, a minha mãe não queria ir ao mato. Mas o meu pai tinha lá o gado. Diziam:
- “Temos que ir!”
- “Ai não vou, não!”
- “Ai, porque temos que ir!”
E foram ao mato. Deixaram os molhos à porta do curral. Ao outro dia, quando a minha mãe lá chegou, teve que chamar uma vizinha para matar o rolo das cobras que lá estava debaixo. O meu pai viu, também nunca mais... Nem quis nem nunca mais mandou ir ao mato. Hoje, nesse dia, fazemos a vida normal e pomos umas giestas na porta. Diz que é para não entrar a fome em casa. Não sei, já ouvia isto de miúda e também faço.