Ainda em Fevereiro, matámos aqui dois porcos. Era da minha filha. Eu compro-os e ela trata. Antigamente, também os comprávamos. Ninguém nos dava, que remédio tínhamos nós! Tínhamos que os ir comprar ao mercado, a Côja. Trazíamo-los pequenos e nós é que os criávamos para depois matar. Eu nunca os tive de ano, mas aquelas pessoas que os tinham de ano a ano, ai! Eram enormes! Mas eu nunca os tinha de ano. Às vezes, até ainda vendia um e comprava outro. Eu tinha muito milho. Tinha um moinho lá para cima, para o Espinho. Lá ia com a saca do milho, depois trazia o saco da farinha e, então, cozia-lhe as abóboras, os nabos e as batatas. E, outras vezes, comiam também as couves cruas e aquilo que calhava.
Para o matar, para fazer as chouriças, é no Natal em diante. O meu pai também os matava. Era matador. Não matava para toda a gente, não, porque havia cá muitas pessoas que os matavam. Mas ainda matava para algumas. Eu nunca gostei de ver. Matava uma galinha, matava um coelho e não sou capaz de ver espetar a faca num porco. Não gosto de ver aquela faca tão grande. E um pombo também não era capaz de matar. Vi uma vez uma pessoa a apertar-lhe o bico e a andar com ele assim de roda. Nem os matava nem nunca mais me entraram cá na minha barriga. Mas o porco é assim: põem-no em cima dum banco e seguram-no, uns, da frente, outros, de trás. O “matanço” está e espeta-lhe a faca! Ainda berra um bocado, mas morre.