Depois de se matar o porco, apanha-se o sangue, um bocadinho que se deixa coalhar, que se coze. Apanha-se o outro bocadinho e mete-se-lhe assim a mão bem lavadinha - metendo a mão já não coalha - que é para depois fazer o enchido. Primeiro, a gente mexia. Estava ali uma hora, outras vezes mais, com um colher de pau, a mexer até ele arrefecer para não coalhar. Agora, dá-se-lhe duas voltas com a mão que já não coalha.
Depois, fazemos enchido. Há de várias qualidades. O de arroz, põe-se um bocadinho de arroz e os temperos. Põe-lhe a gente um bocadinho de colorau, cravinho, cominhos, um bocadinho de pimenta, os alhos e muita salsa. Leva, então, aquele bocadinho de sangue. Mas esse, é só feito com febrinhas. Foi sempre assim. Temos as de sangue, que é as que levam o sangue, as gorduras e um bocadinho de farinha. Depois, temos as de carne, que são só temperadinhas com alho, um bocadinho de colorau e o sal. Depois, temos as de polme. No dia que a gente coze aqueles ossos todos da cabeça e os ossos do espinhaço do porco, tiramos aquelas febrinhas todas e comemos com grelos. Tem aquela água com as gorduras e aquilo é bem cozidinho com muitos dentes de alho e é com um bocadinho de farinha que se faz aquele enchido. Fazíamos também os “morcelos” que não levavam arroz. Esses é que também eram bons. É do tempero de bucho. Depois punha-se o arroz para fazer o bucho e os chouricitos.
Também se fez o lombo e as costelas. Ainda no outro dia, a minha filha fez um pastelão daquele lombo para se comer. E a outra está na tina salgadinha. Antigamente, a carne do porco estava na tina salgada e dali é que comíamos. Estão lá os presuntos e as pás. Depois, come-se no Verão. As pás, é para o tempo das favas, para se fazer as favas e os presuntos é para se comer no Verão. Um bocadinho daquela febra com um bocado de broa sabe bem!
Os chouriços não iam para a tina. A gente púnhamo-los no azeite. Havia muito. Agora, aquelas de carne e até as morcelas de sangue, também, ainda se põem. Ia tudo para o azeitinho que não se estragava nada.