Eu fui à escola. Andei na primeira e na segunda classe. Depois, tiraram-me da escola para criar as minhas irmãs. A escola era no Areal. É do meu tempo uma escola para rapazes e uma escola para raparigas, que ainda me lembro. Mas já não aprendi nessa. Era rapazes e raparigas, tudo junto.
A professora era Lucília. Era de Cernache do Bonjardim. Era rija, mas sabíamos mais. Eu sabia mais do que sabem os meus netos. Ainda hoje, não me esqueceu da tabuada e de fazer umas contas, seja lá de dividir ou de multiplicar, de qualquer uma. Nunca me esqueceu isso. As professoras ensinavam bem, que eu aprendi bem. Até era das que sabia mais. A professora juntava o grupozito do primeiro ano e dizia-me assim:
- “Ó Dorinda, vai-lhe dar a tabuada!”
E eu lá ia para lhe dar a tabuada. Eu sabia tudo de cor e salteado.
Estava um rapaz ali das Finanças, que também é da minha idade. Eu faço em Maio e ele faz em Setembro. E, coitado, era um burro autêntico. A gente estávamos em volta da secretária a ler a lição e a responder às perguntas que a professora fazia e ele, coitado, nunca dizia nada. Um dia, diz-me ela assim:
- “Ó Dorinda, dá-lhe aí uma reguada!”
Ele levava porrada de todos e eu tinha tanto dó dele que bati-lhe devagar. Ela não era de castigar, mas, depois, levei eu outra e com mais força que nunca mais me esqueceu.
Na altura, tínhamos cadernos e tínhamos a pedra. Era as lousas. Ainda ali tenho uma que é do meu neto. Escrevíamos aí. Depois íamos mostrar à professora se as contas estavam bem. Ela mandava-nos passar para o caderno. Outras vezes, estávamos no quadro. Ensinavam-nos muita coisa. Os do quarto ano já estudavam História, já estudavam os rios. Estudavam muito. Mas eu nunca fiz isso. Então, à segunda classe tiraram-me.