Temos aqui a Torre Salazar. Eu não sei bem contar. Fizeram aquela torre e era para ficar mais alta. Mas aqueles senhores que viviam por baixo, diziam que aquilo tinha fracos alicerces e tinham medo que a torre mais alta caísse para cima das casas. Ainda lá está, graças a Deus, mas também não lhe fizeram altura. Depois, puseram-lhe o nome Torre Salazar. Agora, até nem querem que seja a Torre Salazar. É tudo uma gente maluca.
Parece que dá 1600 badaladas o dia que acabou a Guerra Mundial. Eu até ainda me lembro como se fosse hoje. Andava ali eu daquele lado. Estávamos a cavar um bocadito de terra para uns feijões. Depois, disseram:
- “Ai, acabou a guerra, acabou a guerra!”
Havia cá uma gente muito civilizada, que era desses Matias. Muito civilizada, educados e gente rica, gente de “teres”. Eles é que comunicaram para cá que tinha acabado a guerra. E, como andavam a fazer a torre, aplicaram o sino que dá 1600 badaladas o dia que acabou a Guerra Mundial. Depois, fizeram-lhe uns versos. Ainda lá vão todos os anos, no dia 7 de Maio, cantar esses versos. Sei encarreirar umas com as outras, mas sozinha já não sei. Acho que cantam assim:
“O 7 de Maio
Não esquecerá.
O sino escutai-o
Ele vos lembrará
Que foi nesse dia
Que acabou a guerra
Chorai de alegria...”
Os Matias eram ministros e agora não fazem nada para a terra. Havia aí umas placas deles e, quando foi do tempo do 25 de Abril, escavacaram as placas. Então, eles nunca mais deram nada para cá. Nunca mais. Nem cá vêm. Até já venderam a casa. Foi uma coisa muito mal feita. Isto são coisas que ficam na memória.