Em 1961, fui para África. Passámos cá pouco tempo. O meu marido foi primeiro. Foi um cunhado meu que o chamou. Ele foi para ver se se arranjava outro futuro melhor. Não estava mau na aldeia, mas ele era padeiro e andava aí de terra em terra. Às vezes, juntavam-se uns com os outros e bebiam um copito a mais. Vinham para casa, só faziam barulho. Depois, não havia máquinas. Amassava o pão com os braços. Aquilo era manual. Às vezes, havia de amassar o pão muito cedo. O pai gritava com ele, que havia de já ter amassado mais cedo ainda, pois estava muito tarde. Então, ele foi para África. Foi um anito sem mim e eu fiquei cá bem descansadinha. Escrevíamos. As cartas vinham de avião. Às vezes, demoravam, dois dias, três dias.
Fui para África de barco. No Pátria. Até lá ia um senhor de Arganil. Chamava-se Hugo Brandão. Depois, vim no Império. A viagem não era má. Pior era quando o barco ia para baixo e depois vinha para cima. Parece que lá estávamos num camarotezito. Dormia por cima de outro. Eu pensava:
- Só se a correia partir é que eu também vou atrás da correia.
De Lisboa à Madeira, nem a tripulação foi à mesa. Aquilo foi umas horas de amargura. Foi mau. Mas depois a gente encontrou sempre o mar sereno e fez-se bem. Parámos na Madeira, em São Tomé, na Cape Town, na Lourenço Marques. Em Lourenço Marques, tínhamos o carrinho à nossa porta, mesmo à beira-mar. O barco estava parado, viemos para o hotel. Tínhamos comida, o café na cama e pudemos comer uma refeição.