O meu pai chamava-se José Joaquim e a minha mãe Maria dos Anjos. Eram daqui. Como se conheceram, não sei. Então, eu é que sei como é que eles se conheceram? Ainda não era vivo quando eles se casaram.
Ele andava na arte de moleiro a trabalhar e ela trabalhava no campo. A arte de moleiro era moer milho, trigo e centeio. Ia-se buscar aí. O meu pai era renda. Tinha o moinho de renda. Não era dele. Não sei como é que ele começou esse trabalho. Então eu ainda não era vivo.
Tinha dois irmãos. Já morreram. Os meus irmãos foram para Lisboa e eu fiquei.
O ambiente em casa era bom, mas às vezes os meus pais castigavam-me. Se eu as merecesse, tinham que mas dar. Eu também criei um filho e, quando ele as precisava, eu dava-lhas. A minha mãe era pior, porque eu, às vezes, era teimoso, andava ao pé dela e não queria ir fazer as coisas. Ela batia-me, pois, porque as merecia. Às vezes, mandava-me ir à lenha e ao mato e eu não queria ir. Uma pessoa não está sempre bem disposta.