Antigamente, não havia água em casa. Iam buscá-la com cântaros. Com uns cântaros de barro e umas bilhas de lata, iam buscar a água. Havia aí fontes num lado e noutro. A vida noutros tempos era assim. Mais tarde é que meteram aí. A água em casa foi a Liga, que depois levou 3 contos. Depois, a Junta entrou e fez pagar outros 3. Agora, todas as casas têm água, quase. É assim.
Também não havia luz. Era com uma luz, com um candeeiro a petróleo. E outras tinham de azeite. Era conforme podiam. Em primeiro, era assim. Quando eu me criei, era um candeeirito. Punha-se o petróleo para dentro, tinha uma torcida e depois ia-se chegando “pia cima” e alumiava. E via-se bem! Via-se melhor que agora se vê com a luz, com a electricidade. Para aquecer e cozinhar, era fogueira, era lenha. Havia uma cozinha. Em lugar de ser fogão, era uma cozinha. E depois faziam fogueiras na cozinha. Faziam o comer e aqueciam-se. Pronto, mais nada. A electricidade só foi mais tarde. Foi a companhia, parece-me. Pediram-na para aí ou a Liga é que pediu, se calhar. Não sei. Naquele tempo, eles vieram-na cá pôr. Se foi pela Junta ou se foi pela Liga isso não posso dizer nada. Foram coisas que não passaram pela minha mão. Eles, com certeza, quando botaram cá a luz eu até estava para Lisboa. Quem sabe lá? Não posso dizer quando foi, porque não verifiquei. Não sei se foi há 15 anos, se foi há 20. Não fixei bem, não sei. E para estar agora a dizer que foi há 20 anos e que foi há 30, vale mais estar calado.
Depois, veio a luz, veio o telefone, veio a água e pronto. E agora parou.
O telefone ainda só o meti há dois anos. Nem telefone tinha. Meti o telefone, porque o meu filho e a minha nora começaram-me a chatear. Até nem o metia. Já tinha tanta coisa a pagar. Antigamente, escreviam-se cartas. Não se falava. Era cartas. Não sei se demorava um dia, se dois a cá chegar. Se lá botavam a carta a um dia, ao outro dia aqui estava. Agora, aqui há correio todos os dias, mas é um correio que vem de Côja. Distribuidor, vem de Côja e traz a correspondência aqui às portas. É o que traz, mais nada.