Eu namorava com uma rapariga em Côja e namorava com outra da Benfeita. Namorava com duas ao mesmo tempo. Eu vinha todas as sextas-feiras. Quando vinha de lá, parava ali em Côja e vinha depois a pé, de Côja para cima. Estava um bocado com ela. Depois é que estava com a da Benfeita. Eu vim da tropa e disse para a da Benfeita:
- Ó rapariguinha, se queres casar eu para Dezembro quero casar.
Eu vim em Setembro.
- Eu em Dezembro quero-me casar.
Na tropa tinha negócio. Vendia papel de escrever, vendia lâminas. Vendia o que calhava. E arranjei para uma mesa de cabeceirazita. Comprei uma mesa de cabeceira lá, em Coimbra. Comprei uns sapatos e tal. Vou dizer ao meu pai eu quero-me casar. Para Dezembro caso-me. Foi contra a vontade da minha madrasta e do meu pai. Não foi com muita vontade deles. Eles queriam que eu ganhasse dinheiro para eles.
Daí em diante, é claro, ela ao sair disse-me:
- “Ai, tens de me dar uns dias.”
- Bem! Dou-te uma semana.
Senão ia casar a Côja. Que a de Côja estava preparada. A partir daí casei-me. Eu fui casado com uma camisa que me emprestou o meu pai. Só me comprou o fato. O resto da roupa e sapatos comprei eu. Com o meu dinheirinho. Ali a poupar o tostãozito. É o que muitas haviam de fazer hoje, mas não fazem. A minha mulher chamava-se Filomena de Assunção Cruz.