Na noite de São João, as pessoas tinham aí vasos assim com craveiras e essa coisa toda, à janela, nas escadas, nas varandas. A gente de noite era ir roubá-los, pô-los na praça, na fonte. Os donos não gostavam mas que é que eles faziam? Quando eles davam conta já estavam lá. Depois tinham que ir buscá-los. Havia uma senhora, que era vizinha da minha sogra, tinha até uns arcos e umas pedras onde tinha os vasos. Às vezes ela vinha para a janela atirar água para a gente. A gente despia a camisa e ia por uma escada. Ela a atirar a água e a gente a tirar os vasos.
Lá acima para o oiteiro, havia um senhor que tinha lá uns craveiros muito bonitos, que era o Fagueiro. Aquilo tinha uma cancela ao fundo e tinha uma escadaria. No cimo da escadaria tinha a porta para entrar para dentro de casa e tinha ali um balcão onde tinha os vasos. O que é que ele faz para a gente lá não ir roubar? Amarra uma corda à cancela e à perna e quando uma pessoa fosse a abrir a cancela, ele acordava. O que é que a gente faz? Já estavam outros da parte detrás. Abriu-se a porta, o gajo veio lá com um carvalheiro e trás! Mas a gente fechou a porta de repente e bateu na travessa da porta. Depois começaram a entretê-lo de um lado e os outros a roubar-lhe os craveiros do outro lado. Quando ele deu por ela já não tinha lá nenhum. A gente depois fugiu e ele lá ficou sozinho.
Era tradição. Ainda hoje fazem, mas já não é nada daquilo. Hoje, a gente já sabe como é e arrecada os vasos, mas naquele tempo ninguém arrecadava. Era muito raro arrecadar. Às vezes caixotes de sardinha, já todos a escangalhar-se. A gente com eles às costas e escangalhava-se no caminho. Já não ia para casa da dona. Era assim. Eram tempos de alegria. Bebiam-se uns copos e tal. Uma pessoa andava sempre animada.